segunda-feira, outubro 13, 2003

Vida e obra de Vergílio Ferreira
Onde tudo foi nascendo


O seu caminho ficava longe da terra onde tudo foi morrendo. Nascia diariamente em nome da terra, apenas homem, alegria breve. Depois, mudou. A mudança deu à luz uma manhã submersa, face sangrenta de uma aparição. Assim e Para Sempre. Até ao Fim. «Entrarei no paraíso a escrever». E cumpriu. "Cartas a Sandra", a obra que deixou inacabada foi a derradeira de tantas. Vergílio Ferreira, que nunca acabava de nascer, morreu aos 80 anos mas renasce cada dia nas suas páginas tal qual uma Estrela Polar.

Vergílio Ferreira nasceu em Melo, pelas 15 horas do dia 28 de Janeiro de 1916. Filho de António Augusto Ferreira e Josefa Ferreira, cedo se viu privado da presença dos pais, que emigraram para os Estados Unidos quando tinha apenas quatro anos. Ficou, juntamente com os seus irmãos, ao cuidado de duas tias maternas. Esta separação, dolorosa como seria de suspeitar, é descrita em "Nítido Nulo".

Em 1926, quando tinha dez anos e após uma peregrinação a Lourdes, entrou para o seminário do Fundão, onde permaneceu seis anos. Esta sua vivência viria a ser o tema central de "Manhã submersa". Em 32 deixa o seminário, conclui o Curso Liceal no Liceu da Guarda, e começa a dedicar-se à poesia. Quatro anos depois Vergílio Ferreira entra na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, continua a dedicar-se à poesia, nunca publicada, salvo alguns versos lembrados em "Contra-Corrente".

"O caminho fica longe", o seu primeiro romance, foi escrito em 1939. Um ano depois conclui a sua licenciatura em Filologia Clássica e, dois anos depois, o estágio no Liceu D.João III, em Coimbra. No mesmo ano começa a leccionar em Faro e publica o ensaio "Teria Camões lido Platão". Durante as férias de verão, em Melo, escreve "Onde tudo foi morrendo", que viria a ser publicado dois anos mais tarde, quando já leccionava no Liceu de Bragança. Em 46 casa-se com Regina Kasprzykowsky e publica "Vagão J". A sua passagem do neo-realismo para o existencialismo verifica-se dois anos depois, com a publicação de "Mudança". Em 53 publica a colectânea de contos "A face sangrenta" e um ano depois, "Manhã Submersa". Em 59 ingressa no Liceu Camões, em Lisboa, e publica "Aparição", que mais tarde lhe garante o prémio Camilo Castelo Branco, da Sociedade Portuguesa de Escritores. Em 65 é galardoado com o Prémio da Casa da Imprensa. Em 83 publica "Para sempre", ano em que recebe os prémios do Pen Club, Associação Internacional de Críticos Literários, do município de Lisboa e o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus.

Em 1986 é homenageado em Gouveia, onde é dado o seu nome à biblioteca municipal. Em 87 publica "Até ao Fim", que lhe vale o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. Em 90 dá a conhecer "Em nome da terra" e recebe o Prémio Femina, pela tradução francesa de "Manhã submersa". Um ano depois recebe em Bruxelas o Prémio Europália pelo conjunto da sua obra literária. Em 92 publica "Pensar" e é galardoado com o Prémio Camões. Três anos depois acompanha Mário Soares a Gouveia na inauguração das novas instalações da Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira, à qual doa toda a sua biblioteca particular.

A 1 de Março de 1996 morre em Lisboa quando completava 80 anos. Foi sepultado em Melo, «virado para a serra», como sempre desejou. Morreu a escrever. "Cartas a Sandra", a última obra, é uma carta inacabada que viria a ser publicada no mesmo ano da sua morte.


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